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Saúde

Cães brasileiros recebem treinamento para farejar doenças

Olfato apurado dos cachorros pode ser usado para fazer triagens e detectar rapidamente problemas de saúde.

O Sul
por  O Sul
28/06/2022 16:53 – atualizado há 1 ano
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Usado por forças de segurança para encontrar explosivos, drogas escondidas ou pessoas desaparecidas, o focinho canino pode ajudar a diagnosticar doenças. No Brasil, há pelo menos dois projetos que treinam cães para farejar enfermidades como Covid-19 e câncer de mama. Com o olfato muito mais apurado que o humano, os pets podem contribuir fazendo uma espécie de triagem inicial, indicando quais pessoas devem ser encaminhadas para exame diagnóstico.

Durante seu funcionamento, o sistema imunológico humano produz vários compostos químicos que ajudam o organismo a combater um vírus ou doença. Essas substâncias defensoras possuem um cheiro específico e diferente do restante dos compostos do corpo, sendo liberadas pelo suor, urina e fezes. Esse odor característico é o que possibilita que os cães possam ser treinados para identificá-lo.

Reprodução

Em Campo Limpo Paulista, interior de São Paulo, 14 cães de variadas raças aprenderam a identificar a Covid-19. O treinamento foi realizado pela Unidade K9 Internacional, que participou de um estudo iniciado em 2020 e conduzido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pela Escola Nacional Veterinária de Alfort, na França. Um segundo estudo em andamento, feito pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) treina oito cães. A partir do odor característico emitido por quem foi infectado pelo coronavírus, os cachorros conseguem apontar quais amostras estão ou não contaminadas pelo patógeno.

“Primeiro treinamos o cão para ele aprender a procurar por algo que queremos. Depois, ensinamos a diferenciar o cheiro dos casos positivos das amostras controle, que são testes negativos ou pessoas que estão com outras infecções virais”, explica Jorge Pereira, responsável técnico da empresa de treinamentos caninos.

Mas os pets não correm risco de contaminação. As amostras analisadas pelos animais são de pedaços de algodão que foram esfregados nas axilas dos voluntários – que precisaram ficar 24h sem tomar banho e nem passar perfume. Além disso, o material fica dentro de um recipiente com pequenos furos, o que possibilita o cão cheirar a amostra sem encostar nela. O cão passa farejando rapidamente os frascos. Quando acha o que está contaminado, ele para e senta.

Brincadeira de cachorro

O experiente Sinatra, um cachorro sem raça definida (SRD) de 10 anos, é o grande identificador de Covid-19: ele acertou todas as análises, apontando apenas as amostras nas quais o voluntário estava infectado com o coronavírus. Já o beagle Morgan, o caçula da turma com apenas 10 meses, segue os passos de seu “cãopanheiro” e está certeiro no faro. O trabalho é sério, mas para eles, isso não passa de uma brincadeira.

“Na verdade quem trabalha são os treinadores, porque os cães brincam de achar as coisas e, quando encontram, recebem um pagamento com um brinquedo ou petisco. Eles trabalham por 20 minutos farejando e descansam por 1 hora. Só podem fazer isso por quatro vezes no dia. O mais legal é que cães de qualquer raça podem realizar esse trabalho. Isso significa que animais que estão em abrigos e centros de controle de zoonoses podem ser selecionados para trabalhar como farejadores”, afirma Pereira.

Para receber este tipo de treinamento, o cão precisa ser dócil, ter aparência amistosa (normalmente cães de orelhas caídas) e gostar de interagir com pessoas e outros animais. Além disso, o pet deve gostar muito de brinquedos ou comida, que são usados como recompensa durante o trabalho. A ideia é que, no futuro, os cachorros sejam usados para identificar pacientes com Covid-19 em ambientes com grande circulação de pessoas, como em shows e aeroportos.

Cheiro de câncer

Também em andamento no Brasil, o Projeto KDog, treina cães para detectarem mais de 40 tipos de tumores de mama. A iniciativa só existe em Paris, na França, e em Petrópolis (RJ). Os cães treinados conseguem detectar o odor característico de um câncer de mama em fluidos corporais. E o paciente não precisa ter contato com o animal: basta passar um lenço umedecido na pele que os cachorros já têm material suficiente para farejar um possível tumor. Estudos publicados por pesquisadores do Instituto Curie, onde o Projeto KDog começou, apontam que a efetividade na detecção do câncer de mama é de 91%.

No Brasil, o projeto foi abraçado pela Sociedade Franco Brasileira de Oncologia e é administrado pelo cinotécnico Leandro Lopes. A iniciativa já conta com dois cães com treinamento avançado – o pastor alemão Onix, de 2 anos, e a braco alemão Fama, de 11 meses – e mais quatro em estágio inicial. Até o momento, os cães fizeram o treinamento “mecânico” que consiste em aprender a procurar algo e sinalizar ao encontrar. A segunda etapa, quando serão apresentados ao odor do câncer, só ocorrerá depois que o projeto conseguir a liberação do estudo científico no Brasil. Toda a documentação já foi submetida à Plataforma Brasil, mas, por conta da pandemia, os processos estão acumulados.

A ideia é que o farejamento canino sirva como triagem para outros exames que detectam o câncer de mama, como a mamografia, e não um substituto. A expectativa é que as pessoas com indicação para fazer o exame de imagem passem por essa pré-análise feita pelos cães. Caso os animais indiquem a possível presença de câncer de mama, esse paciente teria prioridade na fila.

“Esse projeto tem potencial muito grande. É mais fácil mandarmos o kit para regiões ribeirinhas, por exemplo, do que deslocar um mamógrafo. Sabemos quão importante é o diagnóstico precoce de um câncer e os animais podem ajudar a salvar vidas humanas”, diz Lopes.

O objetivo é implementar o projeto no Sistema Único de Saúde (SUS) e usar a triagem canina para acelerar o diagnóstico de câncer de mama.

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